
Nós tivemos muitas. Conhecí o Redi na Sincro Filmes, do Pedro Carlos Rovai. Claro que já o conhecia pelos seus cartuns em “O Pasquim”, e era seu leitor fiel nas tiras da “Última Hora”. Mas a gente estava lá para um mesmo projeto de marketing: lançamento do filme “Eu dou o que ela gosta”, do Braz Chediak. Ele fez a animação e eu fiz um comercial. Fomos com a cara um do outro de cara.

Com o tempo, o cafézinho passou à ser lá em casa. E surgiram mais projetos de lançamentos de filmes (conhecidos pelos outros como pornochanchadas). A gente bolava junto as campanhas, os avant-trailers em animação. Claro, era pura sacanagem! Como por exemplo o avant-trailer para um filme chamado “O Homem da Cabeça de Ouro”, onde se ouvia um monte de vozes femininas gemendo pelo “homem” e a camera ia subindo num desenho de um homem esbelto de paletó e gravata enquanto a locução dizia algo tipo: “O que será que este homem tinha na cabeça para atrair tanto à mulheres?” até que a panorâmica chegava na cabeça sorridente e o penteado parecia uma glande dourada. Pois é. Saiu comentário escandalizado no JB, mas a gente se divertiu e garantiu o cafézinho nosso de cada dia.


Dois anos depois eu fui para Paris. Eu estava récem divorciado e com a cuca ferrada precisando de alguma coisa. Ficamos nos correspondendo. Isto foi dando uma vontade muito grande nele para ir dar um tempo em Paris também. Dei uma voltadinha de um mês para vender umas coisas e cuidar de assuntos familiares e logo 10 dias depois da minha volta à Paris chegou o Redi.
Caímos um tempo num apêzinho na Rue Mouffetard, num dos cantinhos mais gostosos do Quartier Latin, mas eu só tinha mesmo o apê pelos poucos dias em que um amigo francês estava fora da cidade. Redi tinha um parente, um tio creio, que morava na Mairie de Lilás num subúrbio parisiense. Mas o tio tinha um cachorro que não ia muito com a cara do Redi (e segundo ele, com a de ninguém). Por mais que o tio dissesse que o Redi era “ami”, o cachorro não fazia amizade. O Redi falava do cão com pavor e eu dava risadas, o que felizmente não o incomodava.
Eu falo (ou falava?) um francês razoável. E naturalmente sempre nas lojas e restaurantes era eu quem falava. Mas teve esta tarde, (eu lembro bem porque a gente tinha caminhado muito no Jardim das Tulherias, e eu estava cantarolando direto “sou brasileiro, estatura mediana, gosto muito de fulana, mas sicrana é o meu amor”, quase ao ponto de deixar o Redi irritado) que o Redi quis dar uma parada na farmácia pra comprar shampoo para cabelos oleosos. Eu ia pedir, mas ele insistiu que queria pedir ele mesmo. E soltou em bom som, com o mais perfeito sotaque do Leme: “Monsieur, je bisoin de shampoo pour cheval gras!”. Todo mundo na farmácia caiu na gargalhada e o Redi olhou para mim sem entender porque, até que eu disse para ele que ele havia pedido shampoo para cavalo gordo!

Redi voltou para o Brasil, mas determinado à morar um tempo em Nova York também. Um ano depois ele estava de volta na Big Apple e lá ficou também por décadas. Foi vizinho do Christopher Reeve (o Superman). Publicou inúmeras vezes no The New York Times. Fez cartão para o Museu de Arte Moderna e cardápios para restaurantes. Tocou muito tamborim e cuíca. Não faltam conquistas e histórias do Redi nesta imensa internet de nossas vidas cheias de googles e yahoos.
A última coisa que fizemos juntos foi a peça “Congestion Ahead” de Charles Casillo, que eu dirigí para um Festival no “The Village Gate” em 1992. Tudo era passado num metrô. O elenco era todo americano, menos o Redi que dizia apenas uma fala. A última da peça. A gargalhada final. Saudades de rir com ele.
E numa homenagem aos amigos leitores, aqui está um desenho inédito do Redi, feito, amassado e largado no meu apêzinho em Nova York, sobre as dificuldades de viver nos Estados Unidos sem um green card!

Todos os desenhos nesta página são ©Sylvio Redinger, do meu arquivo pessoal, e de reprodução proibida sem consentimento.
1 comment:
Todos Nós iremos um dia fazer a viagem...o q nos restará e a lembrança de nossas obras e aí que estar, será positiva ou negativa!!!
Mas enfim...temos realizar coisas boas para aqueles q ficam, sintam orgulho e lembrem de nós com carinho!!!
abs!!!
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