Eu era um adolescente noctívago. Comecei a trabalhar em teatro aos 13 anos e não era muito fácil adormecer depois da adrenalina de um espetáculo. E me amarrava em ficar de papo depois. Aos 14, quando trabalhei na peça “O Chapéu de Palha da Itália”, no Teatro da Praça (já há anos Gláucio Gil) fui levado pela primeira vez no restaurante “La Gondola”, na Rua Sá Ferreira. Quem me levou foi a Célia Biar. A galera mais da antiga lembra bem dela com o gato (literal) Zé Roberto, apresentando os filmes da madruga no ínicio da TV Globo.
A Gondola e a Fiorentina eram os restaurantes da classe teatral. Era uma “classe”. Uma sociedade à parte. Não apenas artistas e diretores de teatro e televisão se encontravam para jantar e bater papo, mas muitos elencos de peças eram formados neste restaurantes. A escalação do Vesperal Trol (conhecido também como “Teatrinho Trol” na história da televisão brasileira) era sabida antes na Gondola, na mesa do Fábio Sabag, (sempre com o Roberto de Cleto, Zilka Salaberry, Oscar Felipe, Germano Filho e turma), do que na tabela da TV Tupi.
Eu não era o único garoto que frequentava o lugar, mas eramos poucos. Lembro que André Valli, Mário Valle (que foi depois um costureiro famoso), Luiz Armando Queiroz, já estavam tietando por lá antes de começarem as suas belas carreiras. Era também um lugar onde apareciam pessoas-personagens como o travestí Sofia Loren, o primeiro à conseguir notoriedade no Brasil, e de vez em quando Vinicius de Moraes.
Todo mundo se conhecia. Se você não visitasse e passasse algum tempo em 4 mesas no mínimo, você não era um frequentador digno de ter uma conta. E era uma onda pendurar e ter uma conta mesmo se você tivesse a grana no bolso pra pagar. O garçon Chico sabia das finanças e eu sempre suspeitei (sem jamais ter comprovado) que ele dava umas dicas pra rolar um cachêzinho na TV Tupi pra quem estava com mais contas no prego.
Muitas festas começaram e muitas terminaram no pequeno restaurante. E eu passei muitas horas de papo lá, geralmente com os mais velhos. Escapando de algumas incömodas paqueras, mas curtindo todas as fofocas e as conversas sobre cinema, teatro, paixão e vida. E sobre não perder tempo com preconceitos e prestar atenção nas pessoas. Muitas histórias ficaram e muitas foram esquecidas. O talentoso cenógrafo e figurinista Napoleão Moniz Freire gostava de contar uma aventura sua num trem com o Montgomery Clift. O fascinante pra mim não era a aventura em sí, mas ser amigo de alguém que esteve com alguém que trabalhou com a Elizabeth Taylor nos Estados Unidos. Que era muito mais distante quando os vôos eram no “Constellation”, antes dos jatos aparecerem no mapa.
Uma vez apareceu a Viveca Lindfords na Gondola. Uma atriz sueca que não era Greta Garbo, mas tornou-se estrela de Hollywood desde que estreiou num filme com Ronald Reagan. Ótima atriz no entanto.
Na peça de Fernando Mello “Greta Garbo, quem diria, terminou no Irajá”, na excursão do Actor’s Studio ao Brasil, Viveca Lindfords quem diria... terminou na Gondola. Eu estava enturmado com o pessoal que levou ela para lá, e ganhei atenção especial na mesa porque levei o maior papo com o marido dela, o diretor George Tabori, que era húngaro. Mas não foi meu passaporte para Hollywood.
Só fui ver o famoso letreiro em 1993, quando fui pela primeira vez a Los Angeles para comentar o Super Bowl XXVII em Pasadena, na Califórnia. Estrelando Ivan Zimmermann.
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