Eu cheguei em Nova York na noite de 30 de abril de 1979. Estava vindo de Paris com a intenção de passar 21 dias antes que meu dinheiro acabasse de vez e eu voltasse duro para o Brasil pra catar qualquer emprego. Viagem marcada às pressas. Liguei da França pra uma amiga da minha mãe que morava em New Jersey pra me reservar um hotel barato e lá fui eu.
Peguei um táxi no aeroporto e percebí um problema. Eu falava inglês mas não o bastante pra entender o que tavam falando no rádio. E olha que eu já tinha me virado bem em Londres e Amsterdam só falando inglês. Resolví puxar um papo com o chofer. Eu sempre curto papo com chofer de táxi. Perguntei que tipo de bairro era onde ficava o hotel Wellington. Ele respondeu como se irritado pelo meu sotaque estrangeiro: “Neighborhood? There’s no neighborhood there”! Fim da minha iniciativa de papo.
Cheguei no hotel, check in, quarto decente. Deixa eu sair pra sacar a área. Descí de jeans e um casaco de couro que dava pra aguentar o friozinho de abril. Fui andando e de repente ví que estava na Broadway. Oba! Ví as luzes de Times Square e fui naquela direção como mariposa atraída por lâmpadas.
Na minha imaginação iria encontrar um monte de teatros e cafés bonitos tipo o Café de La Paix, no Boulevard Saint Germain em Paris. Só que frequentados por pessoas lindas como que saídas de filmes de Hollywood.
Nada disso! Mal comecei à andar na Rua 42 e saquei que era a maior barra pesada (hoje em dia não é mais). As pessoas pareciam zangadas comigo e eu nem tinha tido ainda sequer tempo de fazer mal à ninguém. Dei uma meia volta volver e saí andando com “cara de mau”. A gente faz coisas rídiculas quando está com medo.
Voltei para o hotel. Caí na real que tinha feito a maior besteira por não ter pego nenhuma dica com ninguém no Brasil antes de ir pra Nova York. Eu e minha mania de aventura! Mas aí tive a idéia! Eu conhecia UMA pessoa que estava morando em Nova York. Tom Jobim! Perfeito! Maravilha! Estou feito!

Eu tinha tomado dois porres fantásticos com o Grande Maestro para convencê-lo. Ele nunca tinha feito nada para comercial. Mas fez amarradão e gostou. Ficou um clima bom, e quando o convidei para a festa de natal da agência ele foi na boa. Cade o catálogo telefônico? Hmmm... Jobim, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida... nada! Jobim, Tom... menos ainda. Percebí que teria uns dias muito solitários em Nova York.



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