Wednesday, February 21, 2007

Meu rosbife na Big Apple!


Eu cheguei em Nova York na noite de 30 de abril de 1979. Estava vindo de Paris com a intenção de passar 21 dias antes que meu dinheiro acabasse de vez e eu voltasse duro para o Brasil pra catar qualquer emprego. Viagem marcada às pressas. Liguei da França pra uma amiga da minha mãe que morava em New Jersey pra me reservar um hotel barato e lá fui eu.

Peguei um táxi no aeroporto e percebí um problema. Eu falava inglês mas não o bastante pra entender o que tavam falando no rádio. E olha que eu já tinha me virado bem em Londres e Amsterdam só falando inglês. Resolví puxar um papo com o chofer. Eu sempre curto papo com chofer de táxi. Perguntei que tipo de bairro era onde ficava o hotel Wellington. Ele respondeu como se irritado pelo meu sotaque estrangeiro: “Neighborhood? There’s no neighborhood there”! Fim da minha iniciativa de papo.

Cheguei no hotel, check in, quarto decente. Deixa eu sair pra sacar a área. Descí de jeans e um casaco de couro que dava pra aguentar o friozinho de abril. Fui andando e de repente ví que estava na Broadway. Oba! Ví as luzes de Times Square e fui naquela direção como mariposa atraída por lâmpadas.
Na minha imaginação iria encontrar um monte de teatros e cafés bonitos tipo o Café de La Paix, no Boulevard Saint Germain em Paris. Só que frequentados por pessoas lindas como que saídas de filmes de Hollywood.

Nada disso! Mal comecei à andar na Rua 42 e saquei que era a maior barra pesada (hoje em dia não é mais). As pessoas pareciam zangadas comigo e eu nem tinha tido ainda sequer tempo de fazer mal à ninguém. Dei uma meia volta volver e saí andando com “cara de mau”. A gente faz coisas rídiculas quando está com medo.

Voltei para o hotel. Caí na real que tinha feito a maior besteira por não ter pego nenhuma dica com ninguém no Brasil antes de ir pra Nova York. Eu e minha mania de aventura! Mas aí tive a idéia! Eu conhecia UMA pessoa que estava morando em Nova York. Tom Jobim! Perfeito! Maravilha! Estou feito!

Antes de viajar para Paris em novembro de 1978, eu era diretor de RTVC da Esquire Propaganda e tinha produzido o filme de natal do Banco Nacional. O Tom fez arranjo para a tradicional música do banco. Arranjo do Tom, ele tocando piano e cantando com a Bebel Gilberto, produção musical de Ronaldo Bastos e Paulo Jobim, direção de fotografia de Fernando Amaral, direção de Domingos Oliveira, com a sua filhinha Maria Mariana aparecendo. Foi lindo!

Eu tinha tomado dois porres fantásticos com o Grande Maestro para convencê-lo. Ele nunca tinha feito nada para comercial. Mas fez amarradão e gostou. Ficou um clima bom, e quando o convidei para a festa de natal da agência ele foi na boa. Cade o catálogo telefônico? Hmmm... Jobim, Antonio Carlos Brasileiro de Almeida... nada! Jobim, Tom... menos ainda. Percebí que teria uns dias muito solitários em Nova York.

No dia seguinte, um belo sol de primavera e uma fome imensa. Onde comer? Saí andando e fui parar no Howard Johnson. Preços razáveis, cardápio meio fácil. Resolví pedir um sanduíche de rosbife. Até aí tudo bem até que a garçonete perguntou: “On what?”. Eu juro que não fazia idéia do que eu deveria responder. Ela notou e começou à falar em um monte de pães que eu não conhecia. Inclusive “bagel” , que me soou “beigli” que é um doce húngaro delicioso recheiado com nozes ou uma massa de sementes de papoula. É comprido e se corta em fatias. Não poderia ser um “doce de rosbife”.

Até que ela falou a palavra mágica: “Toast”. Yes!!! Toast! Seria o meu primeiro sanduíche de rosbife em torradas, mas era seguro! A Big Apple tinha me mordido, mas eu ia começar à dar as minhas dentadas. E acabei morando 15 anos em Nova York antes de me mudar para Bristol, Connecticut para comer muitos sanduíches de rosbife (sem torradas) na cafeteria da ESPN. Afinal, bagel é bom mesmo com cream cheese!

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