Só que eu era bem magrinho em 1973. Eu estava namorando a Cláudia há um mês. Grudação total, maravilha, grande amor. Aí rolou o carnaval e o convite pra passar ele na casa do Carlos Imperial em Marataízes, no Espírito Santo. O Gordo não estaria lá, mas os seus filhos Maria Luiza, Marco, e amigos. A gente resolveu ir de repente. Saímos no sábado no meu Peugeot 303 preto 1960, que mesmo mais novo parecia um carro de filme do Al Capone.
Avenida Brasil congestionada e tal, quando chegamos lá por Araruama eu já estava estourado de dirigir e estava na cara que não dava pra chegar em Marataízes naquela noite. Como eu tinha ótimas lembranças de infância em Araruama, foi naquela lagoa que eu aprendi à nadar com a minha prima Georgina quando eu tinha uns 8 anos, achei uma ótima idéia passar a noite lá e depois prosseguir a viagem no dia seguinte.
Tudo bem. Mas e hotel? Estavam todos completamente lotados. Aí eu dei de cara com o Camping Clube do Brasil. Ótimo. Um dos diretores da organização era o irmão mais velho do meu amigo Paulinho Abranches. Pensei que seria QI o bastante para arrumar uma cabine. Fomos lá. Estava tudo reservado e não adiantava nada ser amigo de ninguém. “Mas não dá pra dar um jeitinho?”
O jeitinho era comprar um título do Camping e poderiámos passar uma noite lá e no futuro usufruir dos benefícios do tal título. Fomos ver a cabine. Dava pra quebrar o galho. Enquanto a Cláudia tomava um banho e fui lá pra o escritório preencher o tal título. Ele permitia que você incluísse como dependentes mãe, irmã ou esposa. Minha mãe não era do tipo camping, irmã não tenho – tenho dois irmãos. O vendedor disse para eu botar o nome da minha esposa. “Bem, ela não é de fato a minha esposa, é a minha namorada”.
O vendedor disse que não fazia mal e que podia por o nome dela assim mesmo.
Voltei pra cabine morrendo de rir e dizendo que ela tinha virado a minha “esposa”. Depois, entre beijos e carinhos, eu disse que se “aqui fosse como nos Estados Unidos, eu casava com ela mesmo”. Ela tinha ouvido falar que havia um lance com dispensa de proclamas e resolvemos ríndo que iríamos nos casar em Marataízes.
No dia seguinte, curtimos a lagoa salgada (só encontrei água mais salgada quando fui ao Mar Morto, em Israel, em 1996) e prosseguimos viagem. Chegamos em Maratáizes, anunciando que íriamos nos casar lá, e fomos recebidos com festa e carinho pela garotada que nem tava fazendo muita fé que a gente iria mesmo. E também com o único quarto com cama de casal. A gente se divertia durante o dia, e de noite a galera ia pra baile e a gente ficava em casa, em lua de mel.
Na segunda, todo mundo se entulhou no meu carro e fomos para um passeio. Na volta eu quis dar uma parada em Cachoeiro de Itapemirim, mas fui voto vencido. Confesso que agí infantilmente e resolví voltar para Marataízes como se o meu velho Peugeot estivesse em treino para Formula 1. Claro, foi a primeira vez que minha namorada e eu brigamos. A galera foi para o baile e nós ficamos em casa brigados. Pelo imenso período de duas horas. O amor era maior.
Terça de carnaval de tarde. Claudia e eu esparramados na rede e o Marco Imperial tocando violão. E eu digo: “E o nosso casamento?” E ela diz: “Vamos”. E eu digo: “Eu estou falando sério”. E ela diz: “Eu também. Com uma condição. E eu pergunto: “Qual?” E ela diz: “Se não der certo a gente se separa como amigos”. E eu: “Perfeito!”. E me viro para o Marco e digo pra ele pra parar com o violão porque ele tem que nos mostrar onde é o cartório. Ele disse: “Se eu me levantar daqui vocês vão ter que casar mesmo, hein!”
Como ele era “de menor” fomos catar a Marluce no bar e fomos para o cartório, que claro, era na residência da tabeliã. Batemos palmas e lá veio Dona Georgette espantada porque neste momento eu estava vestindo uma mini-blusa da Claudia e ela uma das minhas camisas. Mas eu expliquei que a gente tinha gostado tanto de Marataízes que queríamos nos casar lá. Ela disse que só com autorização do Juiz, e nos deu o endereço dele. Lá fomos nós.
Por coincidência, a casa do Juiz era ao lado da casa do Imperial. Ele nos olhou achando que estavamos de gozação, mas mandou voltar ao cartório e preparar a papelada para ele apreciar a justificativa. Voltamos ao cartório e dissemos para a Dona Georgette preparar tudo... que o juiz assinava! Ela foi catar o escrivão que estava num bloco e teve que ir tomar um banho antes para baixar o teor alcoólico. Preparou a papelada e voltamos para a casa do juiz com a Dona Georgette e os papéis à tiracolo.
Só que o juiz tinha ido levar os filhos para o baile infantil do Iate Clube. Fomos para lá. Só deixaram a Dona Georgette entrar. Depois ela voltou e nos buscou. O juiz passou um meio-pito porque não explicamos nada. Mas os seus amigos estavam dando força, e ele escreceu um parecer dizendo algo tipo “compreendendo os anseios da juventude e também pressupondo razões que óbviamente não precisam ser declaradas aqui”. E pronto, fomos para casa tomar banho para voltar para o cartório às 21hs para casar. Foi neste momento que o Marco Imperial me chamou para um canto e disse que eu não precisava me casar só porque tinha interrompido o seu violão.
A Cláudia improvisou uma linda saída de praia de rendas ao contrário como vestido de casamento, e eu vestí a minha camisa dourado com enfeites de purpurina. Casamos. E fomos como convidados de honra para o Baile do Iate, onde todos vinham espiar “os que casaram”.
Pouco mais de um mês depois casamos na Igreja com figurinos de Cláudio Tovar, músicas de Bach, Taiguara e eu, e Egberto Gismonti arranjadas para clarinete e orgão pelo meu amigo, o Maestro Eduardo Souto Neto. O casamento durou 3 anos. Alguma coisa mágica dura há muitos carnavais.
Em 1973 a campeã do carnaval foi a GRES Estação Primeira de Mangueira, com Lendas do Abaeté.
2 comments:
As aventuras de André José Adler!
Eh o amooor!
to vendo que o livro vai sair sim...
vai sair em forma de blog.. com um capitulo novo a cada dia..
parabéns...gostei msmo
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