Wednesday, February 21, 2007

Lembro uma noite de insônia há quase 40 anos..

Achei um texto que escreví quando eu tinha 23 anos. Será que ter 23 anos em 2007 é muito diferente de ter 23 anos em 1967? Idade difícil ou os tempos mudaram?


Não consigo dormir, preocupado que estou com o reínicio da guerra no Oriente Médio. Lí, há pouco, no jornal que papai trouxe, que os russos mandaram navios para Suez “numa visita de boa vontade”, que é certamente a resposta aos americanos que estão novamente vendendo armas.

Acho que a 3ª Guerra Mundial está progredindo, já quase incontrolávelmente, e não faço a menor idéia de como se poderia impedí-la. Continuo crendo, no entanto, que se todos os jovens se unissem, poderíamos encontrar a solução. Mas para isto seria necessária a união de todos os jovens do mundo. E isso é tão difícil!!!

Passei hoje no “Damon”, casa de roupas masculinas a Rua Santa Clara, e o Abraão me disse que todos os dias pessoas leêm e copiam o meu poema que está num cartaz na vitrine. Fiquei muito feliz pois à quantas mais pessoas meu poema atingir, mas possibilidades há de uma tomada de consciência. Mas as pessoas estão cada dia mais dispersas!

E mesmo eu continuo dispersivo. As circunstâncias que me condicionam atrapalham imensamente os meus objetivos. Escreví hoje uma carta para a Nancy à quem estou inapelávelmente amando. Como eu gostaria de estar vivendo com ela agora...

O nascimento do meu sobrinho Márcio, anteontem, serviu para o meu instinto paternal chegar ao auge. Contudo, nestes tristes tempos que correm, é pouco racional fazer-se filhos. No entanto Márcio vive. E como ele, milhares de récem-nascidos pelos quais deve-se lutar para ter um futuro à oferecer.

Como a minha única forma de luta é a arte, gostaria de poder me dedicar completamente pois sei fazê-la útil. Mas, por estar absolutamente sem dinheiro e sentir plenamente a necessidade de viver sem a dependência dos meus pais que, coitados!, também estão em crise, vou precisar arranjar um emprego onde sei que não estarei fazendo o que de melhor ser fazer.

Acho que vou entrar para a BUA, para trabalhar na reserva, e as minhas experiências passadas bastaram para eu saber com certeza que a aviação não é o meu caminho, no entanto só um milagre faria à estas alturas que eu tivesse alternativa melhor. Juro que este milagre seria uma salvação!!!

Hoje dei um exemplar do “Recado”ao Mauricio Sherman. Vou telefonar depois para saber se ele o sentiu o bastante para oferecer divulgação num dos seus programas de televisão. Preciso também conversar com o Torquato Neto. O Torquato, me parece, terá algo à ver com a minha vida.

Vou levar um exemplar ao Vinicius de Moraes, ele certamente me incentivará ainda mais. Como eu gostei do seu olhar naquela noite no restaurante La Gondola, quando ele me disse: “Ah, poetão! Ele vai bem!” e me deu dois tapinhas paternais no rosto. Gostei da letra da canção que ele fez para o Festival Internacional da Canção.

Este festival está atravessado na minha garganta. Acho que o samba que eu fiz com o Taiguara poderia ter ganho o festival se estivesse concorrendo. Não que eu esteja super-estimando “Forma de Cantar”, mas é que tinha tanta canção “devagar”... Azar. Valeu a sensação de toda uma orquestra tocando nosso samba na televisão. Mas foi inegávelmente uma burrice a nossa falta de previsão.

Gostaria de saber se o Reginaldo Faria vai fazer um filme com o roteiro que escrevemos ou não. É mais uma coisa que depende de esperar e eu já estou cheio de esperar. E começo à me preocupar quanto à segurança dos objetivos do Reginaldo. Ele é bom, é inteligente, mas tão imaturo para a idade dele. Se ele fizer o filme bem feito será o caminho para a sua afirmação. Acho que ele é bom, e que é meu amigo.

Falando em amigo, o Hércio me parece tão perdido dentro de si. E o Henrique está à beira da insanidade com tanta maconha. Que exagero! Eu não posso fazer mais nada por ele, a nao ser desejar profundamente que ele se descubra. Me dá uma pena! Com uma voz tão bonita, com um som tão bonito na viola...

Som bonito faz o Caetano Veloso. Quero conhecê-lo melhor logo que tiver chance. Há muito não escrevia tanto quanto hoje. Estava sufocado dentro da minha solidão. Começo à ter sono felizmente! Paro por aqui. Quero sonhar coisas lindas esta noite. Quero um dia feliz amanhã, preciso que algo de bom aconteça. Preciso.


Eu sempre preciso.

2 comments:

Christiano Puppi said...

o anseio, as preucupações, a insônia, e finalmente, a esperança. Mestre, os tempos são diferentes, as coisas mudaram. Porém, a sua juventude de 67, reflete-se na minha de 07. A insônia persiste, as guerras são constantes, o medo nos assombra. Porém, a esperaça nos fortalece e nunca deixará de existir.

Um Abraço, caro mestre!

Anonymous said...

Lindo...