
Eu fiz a cama na varanda... e ajudei assim e assado na produção de Todas as Mulheres do Mundo, de Domingos Oliveira e depois disto eu já havia colaborado no roteiro de 3 filmes: Os Paqueras, de Reginaldo Faria, Pais Quadrados, Filhos Avançados, de J. B. Tanko, e O Bolão, de Wilson Silva. Já havia sido assistente de produção em A Penúltima Donzela, de Fernando Amaral, já tinha sido 3º assistente de direção (ou contra-regra, claqueteiro, sei lá o que fui!) em Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa, de Roberto Farias. Havia terminado de rodar como assistente de direção o maravilhoso filme Em Família, de Paulo Porto. Eu tinha 26 anos e estava louco para dirigir um curta metragem.
Eu tinha 26 anos e fazia parte de uma turminha maravilhosa que se reunia todos os dias, a maior parte deles na casa do Paulinho Mendonça e da Maria Alice Langoni. A casa deles era para todos nós um segundo lar (ou quem sabe o primeiro). Reginaldo Faria, ainda casado com a Kátia (mãe do Régis e do Marcelo), Claudio Tovar, Luiz Fernando e Luhli (que ainda não usava o “h””), Ney (que ainda não era Matogrosso), Ricardo Bicca, Regina, Bevi, Berilo Faccio, Wagner Mello, e mais umas pessoas eventuais e incríveis.

O Luiz e a Luhli tinham também uma casa em Filgueiras, na baia de Sepetiba. A primeira vez que fui lá eu acabei terminando um namoro com uma namorada canadense que não sacou a magia do lugar, e portanto eu resolví que ela não combinava com a paisagem. E se não combinava com a paisagem, não combinava comigo. Eu tinha 26 anos. Fazíamos passeios de barco na região. Luiz Fernando era fotógrafo e de um dom extraordinário.
Tania Scher, lindissima, também estava muito na área. Tinha estrelado o tal de O Bolão, junto com meu amigo e parceiro Taiguara, tinha trabalhado em Tem Banana na Banda, com a Leila Diniz no Teatro Poeira de Ipanema, onde às tardes passava a peça infantil Pop, a Garota Legal, de Ronaldo Ciambroni, que eu havia dirigido com a irmãzinha da Leila, Lígia Diniz, e ainda a Maria Alice, e o Claudio Tovar estreiando em teatro no Rio. Parecia que tudo que rolava era uma extensão das nossas festas. E às vezes o começo delas. E eu tinha 26 anos. E estava louco para dirigir um curta metragem.




Tudo muito bom, mas cinema sempre custou dinheiro. Fomos papear com o meu amigo Carlos Eduardo de Andrade, que na época tinha a boutique Aquarius (bem adequado) e gostava de cinema, e sabia lidar com bancos. Meu amigo David Havt ia entrar na produção, com negativo mas na hora não rolou. Foi quando eu conhecí o Pedro Carlos Rovai. Fomos bater na porta da Sincro Filmes, e ele arrombou a própria geladeira e nos emprestou duas latas de Eastmancolor de 35mm. Depois o Pedro e eu ficaríamos amigos e eu seria também o seu assistente de direção em A Viúva Virgem e Ainda Agarro Esta Vizinha.

A gente já tinha filmado em preto e branco, 16 mm para ser ampliado e granulado, as tomadas no Teatro Opinião, com direito à apoio moral da Lucina (que na época usava “h”), e fomos pra Filgueiras. Luli, que se consagraria depois como compositora, foi minha assistente de direção, cuidando da continuidade daquela viagem visual.


De qualquer modo, haviam as outras locações maravilhosas em Mangaratiba, inclusive um areal onde as gaivotas pousavam e sobrevoaram sobre a galera do conjunto na hora certa. Foi uma operação silenciosa armar a camera à distância e levar o pessoal de barco para a ponta de areia.
A última tomada do filme foi feita num travelling (nada fácil de montar na areia) e foi o fim do negativo. Não dava pra repetir.
Mas o material ficou ótimo, e a gente já estava combinado com o Egberto Gismonti pra fazer um curta com ele. Teria sido lindo. Mas não havia MTV. Menos ainda Canal Brasil. A Nova Estrela teve teve então a sua estréia para público. Foi para convidados no Cine Jóia, um dos menores que já existiram no Rio, e ficava no mesmo shopping onde o Carlos Eduardo tinha a sua boutique. Não havia lei de obrigatoriedade para curtas, e os exibidores brasileiros práticamente só passavam filme nacional quando obrigados por lei. Mesmo assim, eu inscrevi o filme e o INC (Instituto Nacional do Cinema) o escolheu para representar o Brasil no Festival de Berlim. Não aconteceu nada, mas a lata fez uma bela viagem de ida e volta à Europa!

A outra exibição internacional do filme foi no cinema do Public Theatre, em Nova York, nos anos 80. Eu tinha uma velha cópia em 35mm e estava com saudades do filme. Foi uma exibição ultra privê... só eu e o Fabiano Canosa. Fabiano era o programador do cinema. Infelizmente a cópia estava arranhadíssima, com pulos de fotogramas e cheia de óleo. Não dava para exibir.
Através dos anos a Lizzie Bravo sempre me botou pilha pra arrumar uma cópia do filme. Uma vez, quando almoçamos com o Bituca em Nova York, ele me disse que nunca conseguiu ver o filme. Puxa, Milton Nascimento tinha que poder assistir! Isto foi ainda nos anos 80.
Poucos dias depois que cheguei em Budapest no ano passado, uma surpresa no correio! Paulinho Mendonça me mandou um DVD da “velha estrela”, descolorida pelos anos, mas trazendo a evocação de uma época importante. Pena que o som (logo o som!) estava enervantemente distorcido. Mas deu para eu ter uma alegria muito especial, e depois dar muitas risadas. Não lembrava o porque de algumas coisas.
Mas entra em cena, ou melhor em Skype, a Lizzie. Ela me arrumou e mandou o mp3 da trilha original... com o texto do Frederyko. Eu resincronizei no computador e finalmente me lembrei do meu filme. Coloquei no You Tube. Paulinho e Lizzie foram das primeiras 1737 pessoas que assistiram antes de eu bloquear por um tempo.

Eu tinha 26 anos. Eu tenho 62 anos.
PS em 19 de março. O filme já está desbloqueado no YouTube.
6 comments:
Gratulalo Drágam barátan André.
o prazer que tenho de ler suas lembrancas/historias e melhor ainda ouvi-las e poder ver seu belo brilho dos olhos e seu explendido sorriso, é magnífico.
Quero ver seu curta !!! Ah saudade de produzir tmb ( a minha e coisas pequenas ...)
sok pusziiiii
Eu devo ter sido uma das primeiras a ver, pelo Youtube, através da divulgação da Lizzie!
Que peninha que vc bloqueou o acesso no youtube! Vou ter que retirá-lo tb dentre meus vídeos no Orkut!:(
Mas parabéns!
beleza André...agora a ficção....ceninho
Loucura total esse vídeo hein Adler rs . Good Times rs
Logo depois passou um filme que vc era o assistente de diretor.
O Adler joga definitivamente nas 11. rs Abraço
me amarrei - no post e no filme!
viva o som imaginário :)
(pena a qualidade da fita não estar lá grande coisa)
André,
Que história maravilhosa.Adoraria ter participado dessa festa.
Parabéns pelo filme e tb pela persistência e força.
Grande abraço,
Marcus
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