Wednesday, July 13, 2011

Homenagem ao Emiliano Ribeiro


Marcos Manhães Marins, administrador de uma lista do pessoal do cinema brasileiro, fez uma postagem ontem da qual reproduzo um trecho:

“Chegou-nos a notícia de que o cineasta Emiliano Ribeiro foi
encontrado morto em sua casa.

Vamos aguardar que os amigos dêem mais detalhes tanto sobre
a sua carreira profissional, em homenagem, como de como
será a despedida. A princípio será cremado no Rio de Janeiro,
amanhã. Quem pode especificar essa cerimônia melhor?

A tragédia foi muito maior, porque Emiliano não tinha uma
doença aparente, e estava, junto com sua esposa, esperando
um filho. A empregada entrou hoje e viu a cena.

Morreu dormindo na cama, e sua esposa ao encontrá-lo entrou
em estado de choque, ficando ao seu lado por 48 horas, viva,
mas sem se alimentar ou beber nada. E ela falece também,
com o filho do casal dentro dela, a caminho do hospital,
por desidratação.”


Meu amigo Phydias Barbosa postou depois e eu mandei meu depoimento hoje. Creio que ambos falam por si só e aqui publico como homenagem:


Prefiro pensar que Emiliano partiu "Em busca do Tesouro"...

Conheci Emiliano Ribeiro em 1963, quando morávamos em Copacabana. Ele já era
meu herói desde muito tempo antes, pois eu era fã do programa da TV Tupi,
Guguta e Tião, do qual ele era um dos protagonistas.

Passamos a jogar longas partidas de xadrez e a sair pelos teatros do Rio
para descolar ingressos grátis nas noites de estréia para a "classe". Mas só
consegui meus primeiros "15 minutos" quando Guguta me apresentou a André
Adler (produtor) e Domingos de Oliveira (diretor), na peça Em Busca do
Tesouro, Teatro Jovem, Botafogo, 1964. O mesmo teatro que formaria toda uma
geração de atores e técnicos, no comando do genial Kleber Santos.

Comecei a trabalhar na peça, André Adler de "patrão". Vendia ingressos,
encaminhava as crianças e mamães às suas cadeiras, vendia balas e ajudava na
contra-regra.

Pelas mãos de Emiliano, comecei minha carreira artística em teatro e cinema.
Com ele, fiz meu primeiro trabalho em longa-metragem (Estranho Triângulo, de
Pedro Camargo, 1969). Mais tarde, com as idas e vindas dos EUA para "fazer
cinema no Brasil", trabalhamos juntos em Amores (1998), de Domingos de
Oliveira e em Condenado à Liberdade (1999), dirigido por ele aqui em
Brasília, onde me encontro de volta, no projeto de implantação da TV Pública
no Brasil. Nosso próximo trabalho juntos seria uma Oficina de Cinema na
Faculdade Salesiana de Macaé, agora em Agosto.

Como me despedir de um amigo de infância que se tornou companheiro, sócio,
colega de trabalho ao longo desses 47 anos? Desejando que ele encontre seu
tesouro no céu, ao lado de bons espíritos que encaminharão sua alma para
lugares mais amenos que o planeta Terra.

A gentil Kaká, sempre solícita e com uma ternura tão leve, também se foi.
Juntos, estarão agora em locais mais sublimes, ainda abraçados amorosamente
como na cena final encontrada em sua casa hoje pela manhã.

À Carlinha Dutra, filha do querido "Guguta", meus sentimentos e o desejo de
muita paz nessa hora. Estarei reforçando suas orações.

Phydias Barbosa


Raramente escrevo nesta lista pois estou afastado de cinema há muitos anos, Quando escrevo isto me lembro com prazer que faço uma pequena ressureição muito especial atuando no filme "O Carteiro! do meu
grande amigo Reginaldo Faria.

Mas em adição ao lindo depoimento do querido Phydias, eu quero
compartilhar um pouco do meu choque com o falecimento do Emiliano. Sou
cinco anos mais velho do que ele, o que era uma enormidade quando o
conhecí. Ele tinha 12 ou 13, já tinha sido Guguta na TV Rio, e
participou de algumas peças no "Grande Teatro" do Sergio Britto na TV
Tupi. Lembro de levá-lo pra casa, morador de Copacabana que eu também
era, e deixá-lo na Praça Sarah Kubitchek antes de prosseguir para a
Fiorentina ou a Gondola onde o papo com o pessoal continuava.

Poucos anos depois ele trabalhou com meu irmão Jorge em novelas na TV
Rio e foi um outro período de convivência. Isto antes do "Em Busca do
Tesouro" ao qual o Phydias se referiu, que custou a minha Lambretta
mas além de Emiliano, Ionita, Paulo Roberto Rocco (sim, o editor)
contracenei também com a nossa querida Leila Diniz que fez seu
primeiro trabalho como atriz. Todos com a carinhosa direção do
Domingos.

A fase cinema veio anos depois quando juntos, Emiliano e eu, fomos
assistentes de direção do Paulo Porto num filme que orgulhosamente
guardo no meu currículo: "Em Família".

Vivendo 30 anos fora do Brasil, e estando de volta no Rio há apenas 2
anos, recebí visita de Emiliano e esposa nesta casa que aluguei em
Vargem Grande. Almoçamos bem e lembramos muitas coisas e comparamos
histórias. Como muitos, ele estava surpreso com o meu envolvimento com
esportes, principalmente com futebol americano.

Os amigos que se vão não levam consigo as histórias dos bons
momentos. A dor é saber que os compartilhados chegaram à um fim.

A estranheza sinistra das circunstâncias do falecimento de Emiliano e
sua esposa é que me deixou insone e chocado. Cineasta, Emiliano
Ribeiro se foi e deixou um filme com sua ida.

Mas não serei eu que o escreverei. Apenas guardarei as nossas muitas histórias.

abraços para todos,

André José Adler

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