Tuesday, April 28, 2009

André J. Adler itthagy minket

Dias antes de viajar eu dei uma entrevista para o editor do site da MAFL (liga húngara de futebol americano) Gergely Koroknai, autor também desta foto de ilustração. Como foi um papo sincero, e até emocionado, num momento importante da minha vida eu quis compartilhar aqui no blog em português. Aqui está, traduzido do húngaro pelo meu talentoso amigo Nandi Kiss. Nandi, um jovem cineasta que é também ótimo fotográfo foi meu assistente no programa em 2008 e colaborou com idéias e trabalho para o sucesso do programa Touchdown.

Aqui vai o papo:

André J. Adler nos deixará

2009.03.19.

Depois de três anos vivendo aqui na Hungria, André voltará definitivamente ao Brasil, aonde não mora há 30 anos. Em meio a muitos compromissos, nos encontramos no Café Gerbeaud para conversarmos sobre os anos aqui vividos e os futuros planos no Brasil.

Deixo a Hungria mais tarde do que imaginava, já que quando cheguei aqui os meus planos eram de ficar somente por um ano para que eu pudesse conhecer um pouco o lugar onde nasci. Depois apareceram diversas oportunidades e acabei me apaixonando por esse lugar – não somente pela comida, mas em parte também pelo Futebol Americano (rindo).

Eu sempre disse que o Futebol Americano é um esporte que cria uma união e que essa união pode ser importante também fora do esporte. Vi os Hungaros lutarem juntos por um objetivo, coisa que fora do Futebol Americano não ocorre. Logo, é muito triste essa despedida. O principal motivo de minha partida, mesmo que sempre os meus planos eram de voltar ao Brasil, é a minha família, os velhos amigos e o idioma não tão complicado. Lá, “eu não cometo tantos erros” (em húngaro) .

A temporada de 2009 da MAFL (Liga Hungara de Futebol Americano) vai ser muito interessante e eu irei acompanhar os acontecimentos através das matérias que você escreve. Acho que o Budapeste Wolves terá que se preparar melhor para jogar contra o Budapeste Cowboys, que no ano passado os surpreenderam; talvez os Cowboys estão se preparando para uma surpresa ainda maior esse ano. Tem também o Tigers, que agora está na primeira divisão; é um time muito jovem com uma postura muito positiva e acredito que através de seus talentosos jogadores teremos partidas muito boas.

Depois, tem a terceira divisão, onde teremos jogadores que eu gostaria muito de ver mas infelizmente não poderei. A segunda divisão também promete jogos muito emocionantes, já que teremos times que vieram da primeira divisão e tentarão de todas as formas subir novamente. E claro, tem os Predators que mereciam tanto quanto os Tigers estarem na primeira divisão, mas Steve Benefield (treinador dos Predators) é uma pessoa inteligente e não quis se apressar.

Com tudo isso, acredito que será uma temporada fantástica e teria gostado muito se nesse ano também eu tivesse tido a oportunidade de fazer o programa Touchdown Magazine, com o qual queria chegar ainda mais longe; que mais pessoas pudessem acompanhar o programa e os diversos e emocionantes aspectos do Futebol Americano; para pudessem conhecer melhor os maiores jogadores e para que os próprios jogadores pudessem se conhecer melhor, e ainda para que pudessemos mostrar ainda melhor as regras do esporte. O ano passado foi muito bom: Mostramos aqueles hungaros que tiveram papel muito importante na NFL, já que aqui eles não eram tão conhecidos. Mostramos que o Futebol Americano estava no “sangue” deles.

Me mudo da Hungria, deixarei o país, mas o país nunca me deixará, será sempre parte de mim. Deixarei a “porta aberta”, - Estou aqui, arrumem um canal ou dinheiro para o programa e eu voltarei. Talvez para a final do campeonato estarei novamente por aqui, quem sabe? Só a unica coisa que é muito triste é que aquelas pessoas que comandam os canais de televisão nesse país não dão devida atenção ao fato de poderem investir em um esporte que os Hungaros praticam. A maioria dos esportistas hungaros somente são mostrados na época das Olimpíadas, não há um devido incentivo ao esporte. É verdade também que já não existe uma “Seleção de Ouro” (citando a seleção de futebol da década de 50), mas se não incentivamos os esportistas, não há esporte.

Agora quanto a TV, o Futebol Americano é um esporte feito para a Televisão, ainda mais em um programa de compacto é ainda melhor pois por se acaso o jogo não é tão bom, pode-se mostrar os melhores e mais emocionantes momentos somados com outras curiosidades. Resumindo: Há a audiência e também há o esporte mas os responsáveis dão preferência aos “produtos baratos” comprados de fora. Eu só espero que com o passar do tempo os dirigentes televisivos mudem pelo menos a forma de pensar e dêm mais importância ao Futebol Americano que cresce de uma maneira generosa e não pode parar, e eu ajudarei com todo o prazer do mundo da forma que posso, até mesmo não estando por aqui.

No ano passado, um dos momentos mais importantes foi quando nos reunimos na casa da Embaixadora Americana. Ao meu ver, foi um grande acontecimento do qual tenho muito orgulho. E não somente pelo fato de eu ter organizado esse acontecimento, mas sim, porque foi voltada a atenção ao Futebol Americano na Hungria – não somente aos jogadores e aos técnicos, além dos times que ali estavam, senão todos que muito fizeram pela NFL – que foram lembrados no discurso da embaixadora April H. Foley.

Sendo assim, eu estou indo embora mas uma parte minha ficará por aqui, aonde quer que eu esteja e independentemente do que eu estiver fazendo, eu só estarei a uma distância de um e-mail.


A princípio você disse que pensava em ficar na Hungria por menos tempo do que acabou ficando. Poderíamos dizer que no ano passado você pensava em ficar mais tempo ainda por aqui?

Sim, no começo eu disse: Ok, vou passar mais ou menos um ano na Hungria para poder escrever um livro. Essa foi a idéia que eu tinha quando vim, por isso mesmo é que eu fui morar em “Rákoskert” (distrito localizado nas redondezas de Budapeste), lá ninguém irá me perturbar. Mas depois muitas coisas aconteceram, surgiu a possibilidade de comentar o College Footbal com o Zoltan Hethéssy, que é um grande profissional e se tornou um grande amigo e companheiro de trabalho. Depois eu “ganhei” a oportunidade do László Tóth (presidente da Liga) de fazer o Touchdown Magazine, onde eu era o responsável por tudo que as pessoas gostavam (ou não) de ver, claro que a camera não era eu quem a manejava. Se era do agrado da audiência eu agradeço, senão eu sou o culpado. O László Tóth sempre apoiou a idéia, e se dependesse dele, neste ano também haveria um Touchdown Magazine na TV ainda melhor, eu sei que ele fez de tudo para que houvesse mas as vezes o tudo ainda é pouco para que algumas coisas funcionem. A gente sabe que a Hungria funciona dessa forma. Foi uma grande surpresa que as coisas aconteceram desta forma e no ano passado quando vimos que evoluimos eu disse: Ok, vamos fazer mais uma temporada. Eu sinto que quando faço algo que gosto, eu me sinto em casa, mas quando não há o que fazer... mesmo que eu já esteja na idade de me aposentar, a minha mente ainda não está na idade. E se eu não a uso, eu a perco, e eu quero é usá-la, até quando eu puder.


E em que pé está o livro?

Nenhum (rindo). Algumas coisas eu coloquei no meu blog, ali estão as anotações. Estão em português e eu não o atualizo muito.

A minha vida é muito estranha: Eu nasci aqui na Hungria, cresci no Brasil e depois me mudei para os Estados Unidos, fui ator quando garoto, depois virei Narrador Esportivo, muitas coisas... Conheci muita gente que nunca imaginei conhecer: De David Bowie a David Rockefeller. E claro, também conheci alguns traficantes no Washington Square (brincando). Conheci muitos famosos que eram interessantes e também muitos que não eram, e também muitas pessoas que não eram famosas e que eram pessoas extremamente interessantes. Resumindo, eu teria muita coisa para escrever nesse livro, mas mesmo tendo um ego, o que claro até certo nível não faz mal, mas depois... Claro se alguma outra pessoa quiser escrever um livro sobre mim, dai já é outra história.


E o que vai ser se não tivermos nem dinheiro, nem um canal de Televisão para o programa? Mesmo assim você virá nos visitar?

Estou aberto a tudo. Sou um pouco como a borboleta, se há alguma flor que sorri para mim e pede para ser beijada, então eu vou até ela e a beijo.


E o que você irá fazer no Brasil?

Bom, pelo fato de eu por muito tempo ter narrado para a audiência brasileira, eu recebo diariamente muitos e-mails: que alguém pratica o Futebol Americano porque me escutava de pequeno, ou assiste por minha causa. Mas os méritos não são só meus, já que eu usava os microfones da ESPN. Se não houvesse o microfone, isso não teria ocorrido. Mas quando eu o podia usar, usava de verdade, usava para motivar as pessoas a assitirem e praticarem o esporte da bola oval, e elas assim fizeram. Hoje o Futebol Americano existe desde o Amazonas até o Sul do Brasil, e a verdade é que os amantes do Futebol Americano me consideram muito.

Mas a Hungria está numa melhor situação já que no Brasil este ano será a primeira vez em que vários times irão jogar com o equipamento completo, aqui o acesso para conseguir os equipamento é mais fácil. No ano passado eu narrei o primeiro jogo onde ambos os times jogaram com o equipamento completo.

Acredito que continuarei a motivar as pessoas. Gostaria de continuar na TV, mas antes preciso me adaptar novamente ao Brasil, 30 anos passaram. Preciso me ”traduzir” ao português novamente. Depois veremos como será, a aventura continua.


Então de qualquer forma você gostaria de continuar ligado ao Futebol Americano e à Televisão.

Desde sempre estive na TV. Nunca precisei fazer com que eu ficasse perto do Futebol Americano já que ele que sempre esteve ao meu lado. Com certeza vão acontecerer coisas emocionante no Brasil, só que antes preciso ver como será, da mesma forma quando cheguei aqui. Digamos que irei ao Brasil escrever um livro. Daí claro que provavelmente não escreverei livro algum.


O que você leva com você desses três anos de Hungria?

Uma das coisas mais incríveis, graças ao programa, foi o fato de eu poder percorrer o país, tive a oportunidade de conhecer as cidades e suas diferenças. Também o fato de ver que não existe somente a língua hungara de Budapeste, apesar de eu somente saber falar esta. Aprendi que este é um país maravilhoso, com um solo rico e frutas maravilhosas e que por algum motivo que eu desconheço, não é aproveitado. Acredito que os húngaros tem uma identidade muito valorosa, mesmo se amando e se odiando ao mesmo tempo. E acredito também que o país depende muito da geração que virá, porque a geração de agora, falhou nessa ”missão”.


Você aprendeu alguma coisa sobre o Brasil ou Estados Unidos durantes os anos que você viveu aqui?

Tenho um grande amigo, o Péter Szigeti, que podemos dizer que já há um bom tempo é o meu amigo; nos falavamos muito pela internet. Há alguns anos atrás quando eu nem imaginava viver aqui, eu disse a ele: Engraçado, mesmo eu estando no show business desde os meus 12 anos de idade, tendo feito teatro, cinema, TV, tendo trabalhado como ator, diretor e produtor, mesmo assim, na Hungria nem sabem que eu existo.

Isso foi há alguns anos atrás, mas agora já é diferente pois tive a oportunidade de fazer e e fiz. Fiz algo pelo país onde nasci a algumas quadras daqui (mostrando na direção da casa de seus pais). Espero ter podido ajudar a alguém, já que aprendi muito e espero que alguém também tenha aprendido comigo. Aprendi que sempre serei Húngaro, sempre serei Brasileiro e sempre serei Americano, mas o que eu sou mesmo é: Um habitante no Planeta Terra.


O que você acha que te espera no Brasil?

Volto ao Brasil depois de 30 anos, muitos velhos amigos e novos também, além da minha familia, me esperam, e sinto que no programa também fiz muitas loucuras, como por exemplo, levei um ”Sack”, subi em uma grua gigantesca, fiz coisas que nunca havia feito na minha vida ”normal”, mas fiz pelo programa, fazia qualquer coisa pelo programa se era interessante. Resumindo, acredito que alguma coisa assim me espera no Brasil. ”Estou de frente para o mar e se eu mergulhar, não sei se vou me confrontar com um tubarão ou uma sereia”. E se for um tubarão, com certeza não será de Györ (referência ao time da cidade de Györ, os Tubarões de Györ – Györ Sharks)

4 comments:

seguidorlovecraft said...

É ótimo ler entrevistas suas. E esta, então? Respostas verdadeiras, cheias de sentimentos, dá mesmo para perceber.

Parabéns, mesmo!
Abraços
Leonardo N. Nunes Nunes_Dallas
(Fã do Adler!!)

Unknown said...

Adler, meu grande novo amigo.

Você e será sempre muito importante para a história do futebol americano no mundo, principalmente no nosso mundo tupiniquim, um grande capítulo do seu livro ainda será escrito aqui, com muitos sub-capítulos, títulos e sub-títulos, e me sinto honrado de saber que ao menos de uma pequena parcela disso eu participei ativamente.

Eu te adoro e digo sem medo de errar que nós no Brasil, a nação do futebol americano tupiniquim, te adoramos.

Vida longa ao mestre Adler e muitos touchdoooowns na sua vida em terra brasilis.

Abraços sinceros!

BOING

Unknown said...

excelente entrevista....parabens ae andré!....tudo de bom na sua volta que você possa nos ajudar com o futebol americano aqui no brasil agora...abração amigo!

Maiquel - halfback
Bagé Baguals

Brasil Empreende said...

Ola visitei seu blog e gostei muito e gostaria de convidar para acessar o meu também e conferir a postagem desta semana: Brasil, Um celeiro do Futebol-Mundial!
E participar, também, da corrente Cadê o Amauri por novos jogadores na seleção brasileira.
Sua visita será um grande prazer para nós.
Acesse: www.brasilempreende.blogspot.com
Atenciosamente,
Sebastião Santos.