Wednesday, February 14, 2007

Grandes artistas nos marcam a vida inteira

“Meu desafio como autor foi sempre o de retratar este povo, procurando identificar a consciência do que ele representa como povo. Eu sempre procurei falar sobre o povo, mas não com um realismo terrível. Eu quero é ressaltar o lado extremamente positivo e de superação das dificuldades, esta inclinação que o popular possui. Minha opção política foi sempre um retrato da necessidade que eu tinha de fazer alguma coisa, de contribuir com algo construtivo, e nunca arredei pé disso. Eu continuo até hoje fiel àquilo que eu senti quando comecei a fazer teatro. Isso me dá uma responsabilidade grande, imensa, de ser fiel a esta causa. Logo após a estréia de "Eles não usam Black-Tie" no Teatro de Arena, que foi um enorme sucesso, eu fui chamado para uma homenagem. Naquele momento, eu fiz um juramento para mim mesmo, um pouco bombástico, mas fiz: a de que eu jamais, jamais trairia a causa de usar a minha arte para defender o povo.”

Relí estas palavras de Gianfrancesco Guarnieri na comunidade de Orkut que o Bernardo Procópio fez pra ele. E já tinha deixado lá o meu recado: “Obrigado por ter existido. Pelas peças que ví, pelos papos que batemos nos anos 60, pelo "Grande Momento". Por meu grande momento fazendo o “Chiquinho” na remontagem do Arena no Rio em 63, com o Paulo José. Pelas motivações de juventude. Obrigado até por não termos nos revisto há décadas. A lembrança será sempre jovem e dinâmica. Morre Guarnica, sua obra fica pras gerações.”

Eu tinha uns 15 anos e já tinha visto muito teatro. Era fominha. Ví os grandes atores e atrizes do Rio. E já tinha sido “filho” de muitos na televisão e no teatro. Mas sempre vou lembrar quando uma galera de Sampa fez uma sessão pra classe teatral do “Eles não usam Black Tie” do Guarnieri. A peça já estava sendo uma revolução cultural em São Paulo, e todo mundo tava doido pra assisitir no Rio.

E eu que era um garoto querendo entender as coisas sempre vou lembrar daquela noite num Shopping Center da Siqueira Campos que ainda nem estava todo pronto. Oduvaldo Vianna Filho, Miriam Mehler, o grande Milton Gonçalves, Lélia Abramo, Xandó Batista, Chico de Assis, Celeste Lima, Henrique César, Riva Nimitz e claro, Flávio Migliaccio como “Chiquinho”, balançaram geral. Era um teatro novo que falava de gente com linguagem de gente de verdade. José Renato não parecia ter dirigido a peça e sim ter colaborado com apenas um sopro de vida para que aqueles personagens simples e humildes convivessem.
Eu conhecia gente parecida. Eram os operários de construção. Só não tinham sotaque paulistano. Lembro que meu querido amigo Milton Gonçalves tinha um sotaque na época que era o próprio “default” do paulistês.

E que maravilhas que foram “Gimba, Presidente dos Valentes” e “Arena conta Zumbi”. Eu fui pra São Paulo e vi o “Zumbi” tantas vezes que sabia o texto todo. Tava prontinho no banco de reservas, mas não rolou entrar em campo. Aliás, no palco.

Hmmm... Teatro dá saudades.

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